segunda-feira, 20 de junho de 2011

Perfil: Meu nome é trabalho




Simone Menegussi

Ao entrar no elevador M2 da Unisanta, é preciso gritar, gesticular ou apertar você mesmo o número do andar desejado. Antônio Ricardo, nosso ascensorista com 81 anos é um dos funcionários mais antigos da instituição e já não pode mais contar com 100% de sua audição. Todos os dias, entre sete e treze horas, Seu Ricardo, como gosta de ser chamado, está lá. Sentado em seu banquinho com seus 50 kg de peso e o “Expresso popular” sempre em mãos, para acompanhar as notícias do seu querido Santos FC. Controla o elevador como se fosse seu automóvel. Apesar da capacidade do local ser para15 pessoas, ele permite no máximo que apenas 11 adentrem. Não quer por em risco a vida de ninguém.
Nascido em Santos em 20/02/1928 no bairro do Macuco, filho de Adélia Chaim Ricardo e Vicente Ricardo. Foi o quinto filho de uma prole de seis. Sempre “miudinho”, como diz sua irmã mais nova, mas muito elétrico teve que começar a trabalhar muito cedo. Seu pai abandonou a família quando ele ainda era criança, Dona Adélia, para sobrevivência da família, começou a fornecer marmitas e a lavar roupas para fora. Ele e seus irmãos, após a escola, ajudavam com as entregas. Entre uma entrega e outra gostava de jogar bola e correr atrás de balões. Esta aventura quase lhe causou uma cegueira, pois ao pegar um balão em queda, a mecha ainda acesa, chamuscou seus olhos, prejudicando sua visão. Aos 17 anos, após a Segunda Guerra mundial, começou a trabalhar na caldeiraria da Cia Docas de Santos. Em 1962 casou-se com Euza, teve três filhos, uma menina e dois meninos. Após 33 anos de trabalho na Cia Docas se aposentou, e nesse mesmo ano de 1978 começou a trabalhar na Universidade Santa Cecília dos Bandeirantes. No início trabalhava na carpintaria, há dez anos está nos elevadores. Funcionário como poucos, antes de terminar seu horário de trabalho fiscaliza se todas as salas dos cinco andares estão com as luzes apagadas e em ordem (por sua conta).
Seu Ricardo, todos os dias acorda às 5h30, toma seu banho, seu café, pega sua bike e em quinze minutos saindo do bairro da Aparecida está a postos no Boqueirão. Querido por todos, com sua simpatia e alegria de viver esta sempre disponível a ajudar. Sua família o ama e admira muito, a preocupação com seu bem estar é muito grande. Há alguns meses ele ganhou dois aparelhos para surdez, mas de vez enquando esquece em casa, diz que ainda não se acostumou. Todos dizem que seu único defeito é ser fumante, desde os treze anos. ”Cabeça dura”, diz sua esposa, “Ele não paga passagem nos ônibus coletivos, e teima em ir de bicicleta. Outro dia levamos o maior susto, voltando para casa, após guardar sua bicicleta na portaria do prédio, caiu de costas e bateu com a cabeça no chão da calçada”. Correram para o pronto-socorro onde foi constatado, inacreditavelmente, apenas um galo.
Antônio Ricardo não consegue ficar parado, apesar de enxergar pouco e não escutar quase nada, trabalha há 75 anos com o maior prazer. Seu maior medo é ficar sem fazer nada. Adora ser útil, e estar perto das pessoas, só não quer parar de fumar. O trabalho é seu combustível para viver.

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