quarta-feira, 1 de junho de 2011

“O teatro santista precisa de pesquisa e aprofundamento”


Simone menegussi

Neyde de Castro Veneziano Monteiro não fugiu de suas raízes. A filha de artistas amadores de teatro, é diretora, encenadora, professora e pesquisadora. Criada no bairro da Aparecida, em Santos, iniciou a carreira de atriz ainda criança, encenando para os vizinhos. No fim da década de 1960, formou-se em Letras na Universidade Católica de Santos; fez mestrado, doutorado e livre-docência em teatro na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo. Em 1999, concluiu o pós-doutor ado na Itália, na Universidade de Bolonha, sobre o escritor, dramaturgo e ganhador do Prêmio Nobel de 1997, Dario Fo.
Neyde divide o tempo entre a universidade, teatro, seminários, simpósios, e festivais, além de pesquisar e escrever. Colabora com artigos para as mais importantes revistas e periódicos especializados. Atualmente, é professora no Instituto de Artes da Unicamp, onde orienta cursos de mestrado e de doutorado na área do teatro. Como pesquisadora da CNPq é autora de vários livros sobre encenação e teatro musical. Acaba de lançar o “As grandes vedetes do Brasil”, fala sobre o passado, o presente e o futuro do teatro santista: “Precisamos aqui de pesquisa, estudo, aprofundamento. Se formos só celeiro, como temos sido até agora, continuaremos a mandar os nossos talentos para fora.”
Confira os principais trechos da entrevista feita por e-mail:
Quando o teatro entrou no seu sangue?
Minha família — santista e italiana — era toda de teatro. Portanto, faço teatro desde pequena. Quando estava no primário eu tinha um grupo e fazia sessões abertas ao público infantil da Rua Ricardo Pinto, no quintal da minha casa.
Como foi sua experiência na Itália em relação ao teatro?
Eu fui para a Itália pesquisar o Dario Fo e fazer pós-doutorado na Universidade de Bologna. Além do mais, morei durante um ano em Milão. Claro que foi tudo muito dramático e teatral!
Qual a sua avaliação sobre o atual cenário do teatro santista?
Está repleto de talentos, com muitos movimentos organizados. Mas falta aprofundamento e pesquisa. Isso só virá se tivermos universidade pública em Santos com cursos de teatro e pós-graduação. Nesse caso, os professores seriam concursados e os concursos públicos abertos a todos os doutores do país. Sem isso, não investiremos na pesquisa de poéticas cênicas, na metodologia, não encontraremos novas linguagens e estaremos sempre fazendo bem, mas criando pouco. Ou seja, estaremos imitando. Imitando bem, mas imitando.
Santos sempre foi o celeiro de grandes atores, não é?
Adoro os atores de Santos. Em São Paulo, há inúmeros santistas fazendo sucesso. Mas eu gostaria que Santos fosse mais que celeiro. Que fosse um centro com produção cultural própria. Acho que está surgindo um novo movimento. Espero que não desistam, porque é muito difícil, já que o público não foi educado para ir ao teatro. Para a consolidação precisaremos de pesquisa, estudo, aprofundamento. Se formos só celeiro, como temos sido até agora, continuaremos a mandar os nossos talentos para fora. Há casos isolados de pessoas realmente de teatro em Santos que estão lutando para que este cenário mude e se consolide.
Quais foram os tempos áureos do teatro santista?
Final da década de 1960 e final da década de 1980. Acho que agora estamos numa boa retomada.
A população com mais idade é grande na região. O que a senhora acha deste público?
O Sesc oferece muita coisa para esse público. Mas eu acho que é um público igual aos outros. Não existem espetáculos só para idosos e só para jovens. Mas existe, sim, teatro feito por idosos. Trata-se de uma experiência que funciona muito bem — mais para quem participa do que para quem assiste. Em termos de expressão artística não significa muito no panorama brasileiro. Mas não é essa a proposta. M as o movimento é válido, claro.
Em sua opinião, o jovem tem por hábito ir ao teatro? Como atrair esse público?
Em São Paulo, os jovens estão indo muito ao teatro. Vão, principalmente, assistir ou acompanhar aos espetáculos da Praça Roosevelt e dos grupos jovens de pesquisa e de experimentos, fomentados pelas leis municipais. É que esses espetáculos falam de suas vivências.
E os autores contemporâneos de Santos?
Infelizmente, não conheço autores contemporâneos vivos na região. Conheço Plínio Marcos, [Carlos Alberto] Soffredini e Perito Monteiro. Três grandes dramaturgos santistas, conhecidos nacionalmente, já falecidos, porém muito contemporâneos. Espero que haja bons dramaturgos vivos. Eu é que não conheço.
Recentemente, Santos revitalizou vários teatros como o Coliseu e o Guarani. Nossos teatros estão à altura dos das capitais?
Claro que sim. Estes nossos teatros são elogiadíssimos lá fora.
Os festivais santistas de teatro acontecem há mais de 50 anos. Qual sua opinião sobre os festivais?
Eu já escrevi muito sobre isso. Esses festivais foram e são ainda importantíssimos no panorama nacional. Além do mais, são a grande oportunidade de proporcionar a troca de experiência artística. Para a formação de um ator precisamos de: 1) trabalho; 2) pesquisa (que inclui a universidade); 3) festivais que proporcionem a troca de experiências artísticas.
Santos já foi conhecida como a Barcelona Brasileira. Está faltando aqui atitude política por parte dos autores e diretores?
Não vejo por esse lado político. O teatro pode ser político. Mas tem de ser bem feito. Teatro santista político tendo em mente a Barcelona Brasileira, se for mal feito, não adianta nada. Portanto, o que resolve é estudar teatro. É investir na forma para passar com eficácia o conteúdo.
Em seu livro As Grandes Vedetes do Brasil, a senhora comenta que as novas gerações, por causa da Internet, não têm censura, o acesso à rede é irrestrito. Isso influência a linguagem teatral atual?
Claro. A Internet veio para ficar. Os espetáculos ligeiros e as comédias stand up são a teatralização dos conteúdos da Internet. Para um aprofundamento precisamos bem mais que o Google. Precisamos de livros e de treinamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário